O inverno tinha coberto de geada os campos lá fora. Sentados perto do fogo, os dois observavam, com o indisfarçado desdém dos sábios e dos vividos, a neta que andava do fogão para a pia, da pia para a sala, da sala para o quarto de dormir, ágil, eficiente, cansativa.
– Para que tanto arrumar? – disse a avó, quando Genoína voltou com a braçada de lençóis sujos. – amanhã está tudo como antes.
Genoína parou, com um brilho duro nos olhos, ofendida.
– Não vão viver num chiqueiro, não é? Se gostam de sujeira, eu não gosto.
– Ih, já se ofendeu – murmurou a avó, contrafeita. – Eu só queria que ela não trabalhasse tanto.
– Deixa, deixa – interveio o avô. – Ela gosta, deixa fazer.
Genoína ameaçou dizer qualquer coisa e desistiu. Virou as costas e saiu pisando firme para o tanque de lavar. A avó se encolheu com o ar frio que entrou pela porta da cozinha, ao ser aberta. E teve um sobressalto quando a porta foi batida com força, com raiva.
– Não te preocupa com ela – disse o avô. Ela é assim mesmo. Pobrezinha. Já passou dos trinta e não conseguiu ainda casar. É isso. Tem certas coisas que só um homem cura.
Riu. A avó fez um muxoxo de pouco caso.
– Grande coisa são os homens – disse.
– Ei, não fala mal dos homens – reagiu ele. – Não vai me dizer que não foi bom casar comigo? Hein? Hein?
Os olhos dele sorriam, libertinos, entre os feixes de rugas.
– Tu és é um velho sem vergonha, assanhado. Parece que nunca criou juízo.
– Não vai me dizer que tu não gostavas – insistiu ele, malicioso. – Hein, me responde. Gostavas ou não gostavas?
– Não sei – fez ela com ar distante, estudado. – Faz tanto tempo. Não me lembro.
Ele fechou a cara, emburrado, e ainda estava assim quando Genoína voltou do tanque e se pôs a conversar com a avó, as duas sorridentes.