A DEUSA E O MORTAL

      (OU VÊNUS E ADÔNIS DE NOVO)

Manhã cedo, o sol pontual,

Sai Adônis adolescente

Para a sua amada caça

De porcos selvagens: Vênus,

Amorosa e impudente,

O caça, a alma em brasa.

“Flor de homem – sopra a deusa –

mais belo que eu três vezes,

as ninfas botas no bolso

e a rosa e as alvas pombas:

a natureza que te fez

abusou na competência;

“Apeia desse cavalo,

prende a rédea nos arreios,

vem saber dos meus segredos,

vem meus beijos saborear:

ouves não silvo de cobra,

sim o sopro de um mistério;

“Os teus lábios sentem fome:

vou deixá-los mais famintos

com mil beijos num minuto

ou um longo igual a mil;

o dia inteiro de verão

verás passar num momento.”

Toma a deusa a mão suada

do mortal, que sente a flor

da carne desabrochada.

Vênus, trêmula de amor,

no delírio do desejo,

audaz o arranca do cavalo.

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