A ERA DO APRENDIZADO

Na década final do século passado tornou-se convicção geral de que havíamos entrado na sociedade do conhecimento. O argumento básico para essa convicção, que se tornou lugar comum e quase uma crença, era o de que o conhecimento tinha passado a ser o principal fator de produção e de desenvolvimento, como tinham sido a matéria-prima, e depois a mão-de-obra treinada, nas fases iniciais do capitalismo. A descoberta desse papel do conhecimento, como fator de produção e de inovação, levou a que se falasse, com boa dose de entusiasmo, que o mundo tinha ingressado na “economia do conhecimento”.

            Hoje o entusiasmo, que é sempre ingênuo, cedeu lugar a uma visão mais crítica do que realmente aconteceu e ainda está acontecendo.

            A primeira constatação é a de que se confundiu conhecimento com informação. Informação é apenas uma forma de conhecimento, aquela em que está contido o “saber que”. Toneladas de informação não garantem o fim da ignorância. O fato de haver televisão em todas as casas, por exemplo, aumentou espantosamente o estoque de informação dos indivíduos. Mas isso não os fez mais inteligentes, capacitados a tomar decisões não previamente programadas. Foi um equívoco, portanto, dizer que estávamos na sociedade do conhecimento. A ignorância se manteve, não foi capaz de impedir a manipulação das pessoas por parte dos detentores do poder: o econômico, o político, o mediático, o ideológico. Ao contrário, o volume de informação empanturrou a ponto de se tornar, para muitos, indigerível.

            A informação contém somente o “saber que”. Para ser completo, o conhecimento precisa incluir também o “saber quem”, o “saber como”, o “saber por quê”. Só assim se elimina a ignorância. A chamada sociedade do conhecimento continua a ser uma sociedade da ignorância. Ela só desaparece quando se faz um real aprendizado.

            Talvez seja conveniente começarmos, já, a substituir o lugar comum de “era do conhecimento” e “economia do conhecimento”, por “era do aprendizado” e “economia do aprendizado”. Isso não é apenas mudança de palavras. É mudança de foco. É mudança de referência. Exatamente por haver aumentado o estoque de informação disponível, a importância do aprendizado cresceu também como nunca.

            E aprendizado não se faz, como parece ser outro mito em moda, pelo uso entusiástico das TICs, sigla que os íntimos dão às tecnologias da informação e da comunicação. O aprendizado, como sempre foi na história da humanidade, se faz na relação interpessoal, em que mestre e aprendiz estabelecem consenso entre o saber antigo e o novo saber. Eu poderia ser mais explícito, talvez. Mas para bom entendedor estas palavras bastam.

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