Poema do Outro

O vento levantou-se de manhã

vestiu-se todo de azul

pôs um botão de sol

a passear pela roupa

e saiu devagarinho

sorrindo para todos.

Entrou no jardim

sem passar pelo portão

derrubou uma porção

de gotas de orvalho

pisando por tudo

enquanto nos canteiros

as florinhas se inclinando:

– Bom dia, senhor vento!

   Como vai?

– Vou bem, vou muito bem.

   Obrigado!

– Vai passear hoje?

– Não, minhas flores,

   (e com um sorriso)

   Vou amar.

Vi  ontem um pessegueiro

que nesta primavera

não pôde florir.

Há também numa janela

como um vaso de terra seca

um homem que nunca sorriu.

– Nunca sorriu?

– Nunca. E eu quero levar aos dois

um grão da alegria dos outros.

Eu queria…

levar-lhes perfumes de flores!

– Pois não, senhor vento,

   leve quanto quiser.

*****

O vento saiu todo de azul

com os braços tão cheios de perfumes

que os ia perdendo pela estrada

despertando risos das pedras

e ligeiro balanço das folhas.

De mansinho

chegou-se ao pessegueiro

chegou-se ao homem triste

e lançou-lhes na face

a alegria das flores.

O pessegueiro não pôde falar:

sacudiu os braços orvalhados

e chorou…

No quadro da janela ficou pairando

como o primeiro vagalume do mundo

um sorriso branco e vermelho.

(1956)

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