O tempo está me fitando
com sua cara deslavada.
Fecho os olhos, ele profana
o interior de minhas pálpebras.
Persigo esse tempo,
quero agarrá-lo,
quero matar o tempo.
e ele vem e ri.
Está e não o vejo
corre e não o apanho.
Entra em meus olhos
sai de meus ouvidos,
torna a entrar pelo nariz,
invade-me as entranhas.
Eu não o sinto
mas ele escalva
deslavadamente.
Aqui ergue uma ruga,
ali estraga um órgão,
no coração uma angústia,
no fígado,
uma ira inconsequente.
Devo esquecer que há o tempo.
Inútil tentar compreendê-lo. (1957)