Reinventando ser pai

         Depois de alguns anos de experiência como pai, cheguei a uma conclusão: não existe receita pronta para alguém copiar e garantir que vai ser um bom pai.

         Eu, por exemplo, podia me basear no modelo que tive dentro de casa. Aprendi muita coisa com meu pai. De certo modo, sem desconsiderar o que aprendi da mãe, ele me forneceu ferramentas para encarar, sem tremer nas bases, as variadas situações que encontrei pela vida. Quer dizer, acho que comigo meu pai teve sucesso na sua tarefa paterna. Ele pode ter cometido erros, eventualmente excessos de zelo, mas ainda estou por descobrir um pai que não erra. Em abono deles, deve-se dizer que os erros em geral acontecem quando se tem vontade demais de acertar. Então, são erros por excesso de dedicação, e ninguém condena a dedicação.

         Como ia dizendo, eu podia tomar meu pai como modelo para eu mesmo ser pai. Mas aí vem o problema, que não é só um, mas muitos. O papel de pai continua mais ou menos o mesmo, mas mudaram as circunstâncias. O mundo é cada vez mais complexo, para não dizer complicado. No tempo em que meu pai era pai, era relativamente simples saber para que situações os filhos deviam ser preparados. A vida tinha mais regras, os caminhos eram conhecidos. O cuidado maior era, como se dizia, manter a criança nos trilhos.

         Hoje é mais complicado porque não existem mais trilhos, nem mesmo os das vias férreas. São tantas as surpresas e novidades que não é exagero dizer que cada um dos filhos da gente tem que ele mesmo descobrir o seu caminho. Isso complica a tarefa do pai. Uma coisa é ensinar a seguir um caminho já traçado. Outra bem diferente é ensinar, se for possível ensinar, a descobrir um bom caminho.

         Para este último caso é que não existem receitas de pai. Ele vai ter que apelar para a imaginação, para o sangue frio, vai ter de fazer das tripas coração. Em resumo, vai ter que inventar de novo como é essa história de ser pai. Tentando acertar sem saber se está acertando. Tentando não cometer erros sem ter certeza de que não está cometendo atrocidades.

         A experiência pessoal pouco conta. A gente pode contar como fez, mas isso não significa que a fórmula que deu certo neste ou naquele caso, vai continuar funcionando.

         Por isso chego à conclusão de que o melhor pai é ainda o que menos se mete na vida dos filhos, querendo que sigam por este ou por aquele caminho. O que não quer dizer ficar ausente. Pelo contrário. A melhor maneira de ser um bom pai, hoje em dia, é estar presente, estar ao lado do filho, dividir com ele dúvidas e com ele investigar alternativas. No fim, acho que acabei encontrando uma receita.

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