Eu também já acreditei piamente na eficácia dos alarmes. Agora tenho dúvidas, para não dizer descrença. Não quero com isso abalar a fé de ninguém, nem botar água no pudim dos fabricantes, apenas manifestar o que talvez seja apenas incapacidade de compreensão.
Por exemplo. No bairro onde moro há um alarme que tem o mau costume de disparar no meio da noite, ou de madrugada, e ficar horas a latir desesperado. Não, não é um cachorro, apenas fiz uma imagem canina, se bem que o alarme não morde. Outras vezes, dispara em fim de semana e entra domingo adentro, sem aparecer ninguém para pôr fim no suplício do infeliz. Houve uma ocasião, acho que em período de férias, em que o alarme latiu quase uma semana inteira, incrivelmente sem ficar rouco.
Não sei se esse alarme está instalado numa fábrica, oficina ou depósito de coisas preciosas. Nem sei se é um só, ou se há um rodízio de alarmes, disparando por turno. Como o ruído de todos eles têm a mesma tonalidade e estridência, fico sem saber. Às vezes dão a impressão de serem iguais ao canto da saracura, que a gente nunca sabe de onde vem. Mas imagino que esteja instalado para proteger alguma coisa. Não quero acreditar que seja apenas para azucrinar os ouvidos da vizinhança.
Para o alarme funcionar, e acho que não faço com isso nenhuma descoberta importante, falta um requisito essencial: ele deve ser dirigido a alguém que esteja de prontidão para tomar providências de salvamento. Como parece que não existe esse alguém, os gritos de socorro caem no vazio. Ainda mais quando os vizinhos chegam à conclusão de que o alarme disparou sem motivo, por causa de um vento mais forte na janela, ou do espirro de um passante.
O mesmo acontece com o alarme dos automóveis. Parece, não tenho certeza, que tendo alarme no carro, não sei por que razão, baixa a taxa do seguro. Talvez na expectativa de ele dar susto nos ladrões, se é que eles ainda se assustam. Uma vez tive meu carro assaltado na rua, com alarme e tudo, e ninguém socorreu. Os ladrões levaram até o alarme embora. E acho que todos já devem ter ouvido automóveis com o alarme disparado sem que nada aconteça. A tranqüilidade que ele dá ao dono é, portanto, baseada apenas na superstição.
Talvez a pouca atenção que provocam os alarmes venha de eles serem muitos. No tempo em que o alarme era dado pelo sino da igreja, todos corriam para ajudar. Podia ser um incêndio, podia ser uma catástrofe pior. Mas no momento em que há um sino tocando em cada casa, em cada carro, eles se tornam apenas chatos. Não produzem aquela sensação solidária de que é preciso socorrer alguém em apuros.
Em todo o caso, mesmo que por superstição, mesmo sabendo que ninguém vai socorrer, continuo ligando o alarme do carro. A gente precisa também de um pouco de crenças mágicas para se sentir mais seguro. Deve ser por esse mesmo motivo que o incógnito alarme do meu bairro não foi até hoje desativado pelo dono.