Planto meu cipreste num copo de vidro: assim cultivo a árvore que irá sombrear minha campa. Do copo de vidro afinal diminuto planto-o num vaso que é de barro e se quebra. Planto-o então num vaso de ferro feio e in quebrável e morre o meu cipreste antes que eu mesmo. (1959)
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As muletas
Além (e) aquém (e) dentro (e) fora ao redor (e) sobre e toc e toc vão as muletas de meu verso tateando pelos espaços, tudo buscando situar. Amarei mais sabendo como um topógrafo o local preciso das coisas no giroscópio do universo? Mas como despegar-me das muletas sem tombar paralítico, com a nebulosa silabação dos guardadores de estrelas? Continuar lendo “As muletas”
A chave e a mão
Tem a palmeira a chave de si mesma? Sabe o pássaro onde a sua porta? Em que pedra ou caverna deverei cavar minha chave? Enquanto apenas conjeturo vou batendo em portas fechadas com seu mistério particular: o dente cravado na gengiva o azul de certos olhos o grosso cimento de tua casa as verdes batatasContinuar lendo “A chave e a mão”
Pássaro
Sou pássaro de um mundo invisível voando no céu deste mundo visível amando o sol deste mundo aprendendo a beleza nem espelho (sou um menino que estuda a vida Nas letras coaguladas da cartilha). Um dia retornarei. Pássaro e menino reencontrarei a sombra da árvore insecular. (1958)
Desejo
Eu quisera, Amor, que chegasses qual um pobre cheia do pó das estradas para poder te servir. Eu quisera que viesses como o sol da manhã e eu abrindo a janela te convidaria a entrar. Eu quisera que viesses suave e simples como as águas. E tu vens como um vendaval. (1957)
Tanto mundo
Tanto mundo e tão pouca vida. Tanto mundo e eu tão curto. Meu Deus em não compreendo porque um tão grande mundo que nunca irei conhecer. Tanto mundo, e eu tão pouco. (1957)
Marcos e o barco
Marcos voltou com seu barco após dias perdidos no bojo do mar. E sentado chorava o vazio samburá. A brisa marinha afaga o seu rosto: Marcos, por que chorar? Teu trabalho foi ganho teu gesto fez o mar. Mansamente veio a noite e já não parecia tão sombrio o pescador tão vazio o samburá. Continuar lendo “Marcos e o barco”
Ondas e navios
O tempo está me fitando com sua cara deslavada. Fecho os olhos, ele profana o interior de minhas pálpebras. Persigo esse tempo, quero agarrá-lo, quero matar o tempo. e ele vem e ri. Está e não o vejo corre e não o apanho. Entra em meus olhos sai de meus ouvidos, torna a entrar peloContinuar lendo “Ondas e navios”
Poema da terra
Amigos, amemos a terra, antes que ela desapareça ou nós. Tem sido boa conosco fecunda e de gordos proventos para a nossa irrisória fragilidade. Amemos a terra, velha que já foi moça e agora vai morrer. Carece de um instante de amor antes da última neblina. Amigos que amais tantas coisas tolas tudo isso éContinuar lendo “Poema da terra”
Ode
Os sinos da rua brincam nas carroças que trazem de manhã verduras e leite. Ai, tempos meninos. A doce manhã destilava silenciosamente a clara e funda alegria do café de cada dia. (1956)