João Cabral de Melo Neto, em sua “Psicologia da Composição”, que estamos lendo, escreveu no poema de número VII: É mineral o papel onde escrever o verso; o verso que é possível não fazer. […] É mineral, por fim, qualquer livro; que é mineral a palavra escrita, a fria natureza da palavra escrita. Então, para quemContinuar lendo “Construir um poema é montar palavras”
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A psicologia da composição
Para darmos prosseguimento ao modo de João Cabral de Melo Neto encarar a poesia, vamos ler o poema “Psicologia da composição”, publicado no livro com o mesmo título, em 1947. O livro todo é uma meditação sobre o papel da poesia. Este poema, em particular, divide-se em oito partes. Na primeira, João Cabral começa assim: SaioContinuar lendo “A psicologia da composição”
Máquina para comover
Prosseguimos, com a poética de João Cabral de Melo Neto. Sua posição é contrária à da visão romântica, de que o poema deve ser o repositório das emoções do poeta. Basta ler o prólogo de Gonçalves Dias, no seu livro Primeiros Cantos (1846), onde ele diz exatamente isto sobre suas poesias: “escrevi-as para mim, e não para osContinuar lendo “Máquina para comover”
O poeta engenheiro
Houve um período, quando eu era professor de Literatura Brasileira na UCS, em que um grupo de alunas decidiu gravar minhas aulas, fazer a sua transcrição e me presentear com uma cópia datilografada. Belos tempos! Guardo até hoje em meu baú secreto essas cópias. Tomo a liberdade de as compartilhar, neste site “onde economia e cultura seContinuar lendo “O poeta engenheiro”
Quem inventou o soneto
Os sonetos de Francesco Petrarca foram um modelo de poesia lírica para toda a literatura ocidental. Gregório de Matos foi, no Brasil, o primeiro a juntar água dos sonetos de Petrarca para a sua jarra. Depois de Gregório de Matos, o soneto voltaria ao topo da glória na poesia de Cláudio Manuel da Costa. Teve um parêntese no romantismoContinuar lendo “Quem inventou o soneto”
As primeiras leituras
O leitor inveterado que eu era, a ponto de posar para fotografia com um livro na mão, aos oito anos de idade, teve contato com diversos textos que foram abrindo os horizontes do mundo, para além de São Roque da Goiabeira. Um livro fundamental foi a Seleta em Prosa e Verso, da autoria de Alfredo ClementeContinuar lendo “As primeiras leituras”
O cavalo branco na memória
No primeiro livro de poesia de que participei, livro a que demos o título de Matrícula, compareço com um poema sobre o cavalo, com este desejo: “Ah, não ser eu como o cavalo, não ter um mundo sereno em que me detenha tranquilo e paste em segurança.” A figura do cavalo retorna em todos meus livrosContinuar lendo “O cavalo branco na memória”
Sentimento da noite
Fechar a casa é fechar a vida de um dia. A noite é inconveniente. Permaneçamos pois fora dela as pudicas janelas fechadas a porta bem trancada. Não venha o ladrão nos roubar o sono. Ao redor da lâmpada acesa o nosso mundo construamos. A conversa disfarce o medo, defendamos nossa paz. Como meninos espantados façamos históriasContinuar lendo “Sentimento da noite”
Aniversário
Celebremos o aniversário com grande sabedoria: ano somado ou diminuído mino ou maioridades são apenas traços no mapa. O que vale é manter o ritmo (ralentando ma non troppo) leve e disciplinado. No mais, meu caro amigo, perdoe a metafísica e receba a amizade no meu abraço incontida. (1960)
Falsa serenidade
É outono. Tudo está diluído e sereno. As arestas adoçadas. Sereno é o azul, as nuvens, serena a luz, serena a montanha e a névoa, serenos os meus olhos, sereno também o meu rosto, mas o coração não está. (1960)